Plano Safra é uma artimanha do governo, diz analista

Plano Safra é uma artimanha do governo, diz analista

O Plano Safra anunciado nesta terça-feira (2/6) "é mais uma artimanha ilusionista do governo para o produtor rural", disse o consultor e diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud. Ele faz contas e mostra que, na prática, o pacote de recursos para custeio da safra agrícola 2015/2016 está saindo algo em torno de R$ 17 bilhões abaixo do que foi no ano agrícola passado se for descontada a inflação e o aumento da área de plantio.

"O Plano Agrícola 2015/2016 tem uma inverdade na forma como está sendo vendido pelo governo e que precisa ser esclarecida", retrucou o analista. De acordo com ele, os R$ 30 bilhões de aumento no Plano Safra, de R$ 157 bilhões para R$ 187 bilhões, vêm dos créditos com juros livres, que passaram de R$ 27 bilhões na safra passada para R$ 57 bilhões anunciados hoje. "Isso significa que o produtor terá que buscar este diferencial no mercado a juros bancários", afirmou Daoud.

De acordo com ele, se for tirado do pacote de R$ 187 bilhões o crédito com juros livres, o valor do Plano Safra 2015/2016 volta aos exatos R$ 157 bilhões do ano safra anterior. Ocorre, ressalta Daoud, que do valor do ano passado é preciso descontar a inflação e o aumento da área plantada. "Descontado isso, os recursos totais destinados para custear a safra são, na prática, em torno de R$ 140 bilhões", explica o consultor.

Pelo último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada no Brasil cresceu 0,3% entre a safra 2013/2014 e a 2014/2015. Só para efeito de comparação, a taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses até abril pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 8,17%. Além disso, segundo o diretor da Global Financial Advisor, a taxa de juros para custeio da safra aumentou 35% e as taxas de investimentos, em alguns casos, subiram até 90%.

"A taxa média de juros que o produtor pagava na safra anterior era de 18%. Agora subiu para 30% porque é a taxa do mercado", disse Daoud, acrescentando que, em termos práticos, é como se o governo tivesse emprestado R$ 10 aos agricultores no ano passado e dissesse a eles que neste ano vai disponibilizar R$ 15, mas que os R$ 5 a mais eles terão que pegar no banco. "Esse Plano Safra é uma obra de ficção", criticou Daoud.

Recursos x juros

O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, disse que o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2015/2016 superou as expectativas. "Com certeza foi além do que esperávamos. O País vive um momento de incertezas e perspectivas não muito boas e nosso receio era não haver recursos, mas este volume vai nos proporcionar que tenhamos uma excelente safra", disse Martins, em nota.

Ele avalia que o aumento de 20% no volume de crédito vai compensar a alta dos juros. "Claro que é um aumento (dos juros) significante e que vai ter peso nos custos de produção. Mas é melhor ter juros maiores com mais recursos do que não termos crédito suficiente."

Martins elogiou a criação do Grupo de Alto Nível da Lei Plurianual da Produção Agrícola Brasileira (LPAB), responsável por discutir uma política de planejamento estratégico para o setor, que seria equivalente a um Plano Agrícola e Pecuário Plurianual. Esta medida vinha sendo defendida pela CNA para que o produtor rural planeje melhor sua atividade e tenha uma safra mais previsível.

"Precisamos de um plano mais consistente, para que o produtor rural já se programe para a safra seguinte e já tenha recursos para o pré-custeio", afirmou.

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)